Difícil começar o blog falando justo da Semana de Moda de NY. No blog da Maria Prata – que viajou pra lá pra cobrir o evento – a cobertura começa justamente falando de uma certa previsibilidade dos desfiles de ny – que são comercialmente pautados acima de tudo; com um foco maior na vontade de agradar aos compradores do que na vontade de criar imagens de moda. Nessa hierarquia norte-americana parece que os editores de moda não são lá muito prioridade, a própria Maria falou da dificuldade (absurda) para os jornalistas brasileiros de se conseguir convite para os desfiles de lá. E ela não é qualquerjornalista, ela é vogue né gente. Apesar de tudo isso, eu acho a Semana de Moda de NY uma delícia! Aiai. E não tô falando das grandes marcas, essas eu nem presto muita atenção (tirando o Marc Jacobs,amém) porque no dia que Ralph Lauren parar de ser Ralph Lauren então todo o sangue, suor e lágrimas do Bruce Weber terão sido em vão, e o mundo vai estar girando pro lado errado.
Como pessoa atenta com as palavras e nomeações na vida E na moda, um exemplo que clareia bastante a diferença da semana de moda nova-iorquina da semana parisiense, por exemplo: em NY, os desfiles ‘top’ são Ralph Lauren, Tommy Hilfiger, Marc Jacobs, Carolina Herrera, de la Renta. estilistas que são brand-names eles mesmos. já em Paris a gente tem Rochas, Lanvin, Balenciaga, YSL… casas que estão sendo dirigidas por estilistas relativamente novos que ao mesmo tempo em que estão fazendo trabalhos extremamente autorais, estão reciclando com muito respeito e devoção o repertório dessas maisons históricas às quais estão servindo. É a geração de designers pós Tom Ford, que não está interessada em fazer do seu próprio nome uma marca poderosa. O que eles querem mesmo é fazer roupas excelentes. E é isso que eles tem feito… então o que a Semana de Moda de NY tem de tão sensacional?
Uma coisa que a gente não duvida é que new yorkers sabem ganhar dinheiro, né? Pois então, a new yorker ícone Anna Wintour, editora da Vogue America, é uma dessas pessoas que entende exatamente o mundo onde ela está inserida, e portanto sabe que dinheiro, nesse mundo, é a língua que todo mundo entende. À frente da Vogue desde 1988, há alguns anos a Anna associou o nome Vogue ao CFDA, o Council of Fashion Designers of America. o CFDA – associações dos designers americanos – hoje presidido pela Diane von Furstenberg – premia anualmente os melhores estilistas para masculino e feminino, e dedica também um prêmio à novos estilistas. Esse prêmio não signfica apenas um título e algum destaque na mídia, mas signfica também um ‘patrocínio’, uma bonificação em (adivinha?) dinheiro, para esses novos designers continuarem desenvolvendo suas marcas. NY tem duas faculdades de moda super respeitadas, o Fashion Institute e a Parsons, e com esses incentivos CONCRETOS vêm se tornando um celeiro importante para os novos talentos na moda, lugar antes reservado pra semana de moda de londres.
a Erin Fetherston é um bom exemplo disso – apesar de americana ela morava em Paris; hoje em dia ela mostra suas coleções em ny, e diz que é mil vezes mais fácil conseguir apoio para um jovem criador em NY do que em Paris. sinal dos tempos?
Além disso, Anna Wintour também é parte importante na valorização e divulgação do Costume Institute – departamento do Metropolitan Museum of Art. com Anna à frente da organização do baile anual do Costume Institute, esse evento ganhou tal destaque na mídia e tal divulgação que hoje em dia, para quem gosta de moda, o baile do Met é mil vezes mais importantes que Oscars, Globes e afins. O que eu quero dizer com isso tudo é que existem jeitos de usar a lógica do mercado a seu favor, e é por causa disso que eu acredito na interessância da semana de moda nova-iorquina. Ao longo dos próximos post vou tentar falar bem rapidinho do que vi e gostei e do que não gostei, já que eu resolvi começar esse blog justo quando acaba a semana de ny… e começa a de londres! Tô atrasada! Tô tipo o coelho branco da alice no país das maravilhas… quem sabe eu consigo virar alice daqui uns dias!
Vou colocar aqui umas fotos de quem ganhou o cfda de talentos emergentes nos últimos anos, pra dar uma dica do que vem por aí!
rick owens em 2002 - essa jaqueta já apareceu em tudo que é editorial desse mundo.
proenza schouler em 2003 - o bustier dress ficou tão famoso que até vestido da target ele já virou.
zac posen em 2004 - ashley olsen já foi intern do zac, que é partidário da demi-couture: significa aplicar padrões haute couture nas coleções de prêt-à-porter.
derek lam em 2005 - derek lam é uma cria do cenário de moda americano: formado na parsons, trabalhou por 12 anos com michael kors e agora dirige sua própria e bem-sucedida marca.
doo.ri em 2006 - assim como derek lam doo ri chung tem ancestrais asiáticos, apesar de considerar-se uma estudante de moda americana. doo ri também se formou na parsons. esse look da foto eu chamo de vitoriano do futuro, e acho lindo!
philip lim em 2007 - esse look é receita sem erro do effortlesly cool. jaqueta de couro, oxfords nos pés, e sobreposição de bege e cinza, que é muito o futuro gente! beige + gray = greige que é o novo preto! não é a cara da kate lanphear, editora-musa da elle americana?
rodarte em 2008 - as irmãs kate e laura mulleavy, o duo atrás da rodarte, são de los angeles, auto-didatas, e um su-ces-so. e os sapatos dessa coleção, louboutins cheios de tachinhas? pode prestar atenção nas meninas na rua nessa nyfw, tá todo mundo channeling esses sapatos.
The dress looks nice on you 
